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#SomosTodosBarrabás

O relato que os evangelhos nos trazem a respeito da morte de Jesus Cristo é riquíssimo. São tantas particularidades que, não raras vezes, deixamos passar detalhes importantes no afã de acompanhar atentamente o enredo principal. Essa atitude é justificável, afinal, estamos falando do evento mais importante da história da humanidade.

Porém,uma leitura mais detida nos faz enxergar nuances que tornam a história ainda mais bela e seu significado espiritual muito mais vívido. Cada passo dado desde a prisão no Getsêmani até o "Está consumado" demandam estudo e reflexão.

Muito se tem dito sobre a prisão, os açoites, a coroa de espinhos, Pilatos ou até mesmo sobre a própria cruz. Mas há um personagem central que sofre certa negligência ou é mal interpretado por boa parte dos leitores menos atentos: refiro-me a Barrabás.

Esse enigmático personagem é, muitas vezes, tratado como um simples bandido que gozava de alguma aceitação perante o povo da época e, por isso, fora trocado por Jesus. Tratá-lo nesses termos é reduzir uma das mais belas lições da Bíblia a uma mera manobra político-jurídica.

É claro que não podemos ignorar o lado jurídico da história: havia um instituto jurídico denominado privilegium pascale que permitia ao procurador romano anistiar um criminoso por conta da grande festa da Páscoa. O jornalista investigativo Gordon Thomas nos conta mais detalhes sobre a lei vigente nos tempos de Jesus:

Tanto na lei romana quanto na judaica havia bases claras para permitir uma anistia por ocasião de uma grande festa. Os romanos tinham herdado o costume dos gregos, e o aperfeiçoaram em dois tipos de perdão. Havia a indulgentia. Apenas o Imperador dá-lo, e normalmente só era concedido ao líder de inimigos conquistados que mostrasse coragem excepcional diante da derrota. Havia também a abolitio, que era parte integrante do código legal romano; esse perdão só podia ser concedido antes que fosse dada uma sentença romana. Um abolitio encerrava um procedimento e libertava o prisioneiro antes que sua condição e culpado ou inocente tivesse sido estabelecida. A prerrogativa estava nas mãos do administrador-chefe do império na província. Sob a lei romana, tanto Barrabás quanto Jesus estavam qualificados para o abolitio: o líder zelote não tinha sido julgado; Jesus tinha sido considerado inocente de qualquer ofensa.[1]

Podemos então concluir que a anistia concedida a Barrabás — que era um líder zelote, portanto, alguém que se insurgiu contra o império — não foi mero oportunismo de Pilatos, mas sim uma concessão legalmente prevista.

O ponto principal não é esse. O que chama a atenção nesse ocorrido é: o que faz o Rei dos reis se permitir ser trocado por um bandido? Há aqui uma aparente injustiça, mas Jesus se cala e consente tranquilamente com a soltura de um notório criminoso. Por que Cristo não se manifestou sobre o ocorrido? Porque a anistia ao líder zelote se deu de forma tão "simples"? São perguntas que nos inquietam quando nos deparamos com a narrativa.

Porém, ao olharmos para o texto buscando nele uma aplicação e analisando-o à luz das profecias, o motivo do porque as coisas se deram dessa forma fica evidente. Barrabás não era apenas um rebelde. Ele era um representante da humanidade. Quando Jesus se permite ser trocado e morrer no lugar dele, está nos mostrando que é assim que Ele faz com cada um de nós. Ele se deu em nosso lugar.

Cristo morreu levando sobre si pecados que não eram dEle. Foi morto em nosso lugar. Foi preso para nos tornar livres. morto para que pudéssemos ter vida. 

Assim como Barrabás viu no sofrimento de Cristo a oportunidade de recomeçar, todos nós, ao olharmos para a cruz, encontramos nela um recomeço. É na morte e ressurreição de Cristo que descansam nossa fé e esperança.

É por isso que hoje não restam dúvidas de que Barrabás somos todos nós.





[1] THOMAS, Gordon. O Julgamento de Jesus: um relato jornalístico sobre os acontecimentos que levaram à crucificação. Tradução de Miguel Herrera. 1a ed. Rio de Janeiro. Thomas Nelson Brasil. 2013. p. 262.
#SomosTodosBarrabás #SomosTodosBarrabás Reviewed by Alcino Júnior on terça-feira, novembro 21, 2017 Rating: 5

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